Future Bible Heroes, Eternal Youth
Tinha prometido há um bom tempo a resenha do recente álbum dos Future Bible Heroes, projeto de Claudia Gonson, Stephin Merrit (ambos do Magnetic Fields) e Chris Ewen. Como estou cansado e entedidado, sem o menor saco para escrever, o que não vai desmerecer as qualidades desse disco, usarei a clássica prática do Ctrl C / Ctrl V e teremos a melhor resenha que li do album, escrita por Vasco Câmara do sítio português Vivazzi. Não, não pedi autorização nenhuma.
Eternal Youth é sexy, elegante, instigante e todos os bons adjetivos. Ouça, no mínimo, "I am a vampire", "losing your affection" e "the world is a disco ball".
Future Bible Heroes: Eternal Youth (2002, Intinct)
Um dia destes chegará "The Song from Venus - The Musical". Off-off Broadway, como convém, e com a seguinte "storyline": cai algo de Vénus, para fazer com que os terráqueos se apaixonem. É uma invasão sob a forma de disco do amor, e seguindo o modelo de "Os Chapéus de Chuva de Cherburgo", de Jacques Démy: tudo cantado e sem diálogos.
Podemos considerar que antes do musical a invasão já começou? É que caiu do céu um disco chamado "Eternal Youth", dos Future Bible Heroes. Também aqui há ficção científica e musical, asteróides, antenas, vampiros e outros "aliens", virgens que mesmo além-túmulo permanecem inabaláveis, e em que a moral da história diz que "the world is a disco ball/ and we're little mirrors one and all". Ou seja, há filmes da meia-noite - série B, anos 50 - e atmosfera de fim de festa, quando os espelhos da discoteca já só reflectem o vazio, e apenas ficam em fundo os ecos do "synth pop".
Os Future Bible Heroes (FBH) são três, mas dois deles não se deverão importar (seria inútil) quando se diz que os FBH são mais um projecto de Stephin Merritt, ao lado dos Gothic Archies, Magnetic Fields e 6ths. Os outros dois dos FBH são Chris Ewen e Claudia Gonson, aliás cúmplices de Merritt em vários graus nos outros projectos. Mas a ironia é que a sua implicação no som dos FBH vai além da colaboração, é tão decisiva como a de Merritt. Não há muito a fazer, contudo, quando se está no mesmo barco do já lendário autor da enciclopédia do amor e da pop chamada "69 Love Songs". O mundo é injusto?
Correndo o risco da contradição, nem tanto. Este é, de facto, um projecto autónomo dos Magnetic Fields ou dos 6ths. Merritt, que apenas escreve as letras das músicas compostas por Chris para Claudia cantar, é um terço do projecto. Mas a verdade é que se reconhece em "Eternal Youth" o mundo dos Magnetic Fields ou dos 6ths, ou seja, o mundo de Stephin. Como se a poética de Merritt tivesse tomado conta da música de Ewen. A verdade, a verdade, é que foi da música que nasceram estas histórias de amor, vampiras e homenzinhos verdes.
O amor continua a ser um jogo de equívocos, com céus estrelados, pássaros a cantar e tra-la-las, embora as personagens possam ser uma vampira ("I never age and I'll never die/ unlike all the stars in the sky/ I'll be young forever and why?/ cause I'm a vampire", e prefere sangue a cerveja -"I'm a Vampire") ou um alien, a sublinhar o arquétipo da maldição da beleza, em "From some dying star" ("Your lips are red on red/ one kiss and I'll be dead/ it's just like mama said/ cause you're not human/ your hair is gold on gold/ you're seventeen years old/ you make my blood run cold/ cause you're not human").
A ficção científica ou o retrofuturismo (ainda "Doris Daytheearthstoodstill") podem metamorfosear-se numa produção gótica da Hammer, imaginariamente baseada em Edgar Allan Poe, em "Kiss me only with your eyes", história de uma virgindade para além da morte, com Merritt e Ewen a excederem-se na sugestão de atmosferas lívidas.
E continuamos a ter demonstrações do virtuosismo do escritor de canções, que narra como quem se atira de um edifício sabendo que alguém (o talento) o há-de apanhar. É assim na declaração S&M "I'd rather be the dog food in front of the dog/ than be losing your affection" ("Loosing your affection"), ou na incitação ao suicídio, em "Find an open window", que convida, quando estivermos desesperados, a "find an open window/ then without a sound/ climb through and just let go".
"Eternal youth" pode ser tão evocativo e assombrado como um conto gótico dos anos 70 do século XIX e tem temas tão contagiantes como os que se ouviam nas pistas de dança dos anos 70 do século XX (Human League, Orchestral Manoeuvres in the Dark, os eternos Abba). Mesmo em sintonia com os tempos, com a chamada vaga do "electroclash", que traz de volta os sintetizadores.
Future Bible Heroes. Foto: © Gail O’Hara
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