Pintores da lua, do sol e da casa vermelha
Por Jorge Reis
Os Sun Kil Moon são os Red House Painters. Ou, para ser mais exacto, ambos são Mark Kozelek e alguns amigos. Sabe-se que, por questões do foro da indústria discográfica, Kozelek está impedido de utilizar, fora da Sub Pop, o nome que lhe deu reconhecimento.
E como um artista impõe a sua arte mesmo na adversidade, mudam-se os nomes, continuam-se as vontades.Senão veja-se a companhia: Jerry Vessel (o eterno baixista dos Red House Painters), a espaços; Anthony Ksoutos (o eterno baterista), de corpo inteiro. Se pensarmos que o guitarrista Gorden Mack gravou os quatro primeiros álbuns dos Painters, Phil Carney o último, e Kozelek fez de Songs For a Blue Guitar um trabalho a solo com nome de banda, os Sun Kil Moon são os Red House Painters e os Red House Painters são Mark Kozelek.Complicado? Não. Ditador absoluto da sua arte, rodeia-se de alguns músicos e permite o sonho. Ou então, apenas da sua guitarra e alcança a paz.
Mark Kozelek é a marca distintiva de todos estes nomes.Iniciados em 1992 com Down Colorful Hill, os Red House Painters ganharam imediatamente o respeito e a admiração do público. A sua melancolia, pontuada pela voz sofrida de Kozelek, pelos floreados de guitarra de Mack e pela serena secção rítmica de Ksoutos e Vernel, criou um séquito de ouvintes que os elegeram como porta estandarte do sad core. A têmpera finissecular, capaz das maiores tristezas, tinha nos Red House Painters, a partir daí, o emblema.Mas este primeiro álbum era apenas um conjunto de demos melhoradas que Mark Eitzel tinha feito chegar a Ivo Watts-Russel, líder incontestado da 4AD e da década que lhe deu nome, entretanto terminada. O segundo álbum , rodeado de meios de produção inimagináveis para Kozelek há poucos meses a essa parte, foi gravado obsessivamente em busca da perfeição.
Quando saiu, em 1993, apenas com o nome da banda e uma montanha russa na capa, foi notório que a tinha atingido. O êxito foi tão estrondoso quanto foi decidida a edição alguns meses depois de mais um longa duração, com outtakes e versões deste último. Katy Song, Mistress, New Jersey ou Grace Cathedral Park afirmaram definitivamente os Painters no universo da música alternativa.Expondo-se mais, Kozelek retirou o reverb da voz e, no álbum de 1995 (Ocean Beach), sussurrou lentas sílabas ao ouvido dos seus inúmeros seguidores. Com uma capacidade invulgar, tanto na composição como na interpretação, ofereceu músicas como Shadows ou, a agora por ele renegada, Drop.
Em 1996, Kozelek pediu ajuda a alguns amigos, deu algum descanso aos seus companheiros de caminhada (tanto descanso que Gorden Mack deixaria a banda nessa altura) e gravou Songs for a Blue Guitar. Ivo Watts-Russel, em busca do passado, não entendeu o seu arrojo em músicas como Make Like Paper ou a versão Silly Love Songs dos Wings – onde uma guitarra destorcida impunha a sua voz –, e a separação foi inevitável. Os quatro álbuns e um EP gravados na 4AD foram motivo da antologia Retrospective de 1999. Songs for a Blue Guitar foi editado pela Island.
Entretanto, apoderou-se de Kozelek um caminho novo. Gravado em 1998, já com os seus dois antigos músicos e Phil Carney no lugar de Mack, Old Ramon estaria na prateleira de uma editora entretanto reestruturada (a Island) até que Kozelek o resgatou e o editou pela Sub Pop em 2001. Demonstrando a sua fantástica capacidade de composição, interrompe no entanto um percurso ascendente com uma produção menos cuidada. Entregue a novos projectos (Take Me Home, tributo a John Denver que organizou e onde colabora com três temas, The Shanti Project Collection onde tem quatro, de entre eles a magnífica versão dos Génesis de Follw You Follow Me, os dois álbuns a solo na Badman – Rock’n’Roll Singer – com a fabulosa música Ruth Marie – e o inesperado What Next to the Moon, inteiramente composto por versões dos AC/DC e o registo ao vivo White Christmas Live), apenas em 2003 viria a retomar a edição em nome não próprio com este Ghosts of the Great Highway.
Não estando ao nível dos iniciais Red House Painters, não desemrece o percurso de dez anos do seu mentor. A voz menos presente, as guitarras mais sonantes e, pasme-se, uma guitarra portuguesa em alguns temas, demonstrando a sua ligação com o nosso país, afirmam que Kozelek ainda tem muito para oferecer à música e que novos desafios se lhe deparam.
(Dessa relação com Portugal já nasceram um álbum (If You Want Blood, editado pela Música Alternativa, que reúne os seus dois registos a solo) e um livro (Noites de Atropelo, editado pelas Quasi Edições) ambos em primeira edição em Portugal.) Ghosts of the Great Highway é um álbum extremamente interessante onde as composições são simples e enormes e a voz de Kozelek a melancolia decantada do crepúsculo.
2 Comments:
ADOREI!!!
Vc continua muito bom resenhista e agora o blog está de visual novo com espaço para comentários!
Vê se dá sinal de vida de vez em quando.
Beijos!!!
P.S.: Estou sem PC em casa. Vou ver se normalizo a situação em breve.
Pode ter a certeza, agora escreverei o quanto puder... Falarei sobre João Donato, American Music Club, Interpol, Sebadoh, Smiths, Leonard Cohen.
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