terça-feira, março 16, 2004







Tom Zé - Imprensa Cantada 2003
2003, Trama




Tom Zé permace criativo. Seu mais recente álbum, intitulado Imprensa Cantada 2003 é mais do que um mosaico de notícias que povoaram noticiários e os articulistas da imprensa escrita do ano passado. O álbum é um apanhado sincrônico e ao mesmo tempo anacrônico dos conflitos que perturbam nossas cabeças por estes três últimos anos, depois do lançamento de Jogos de Armar em 2000.

Os textos ultrapassam uma pretensa objetividade textual para tecer um cruel/irônico libelo contra o imperialismo americano e a dominação do mau gosto proposta pela globalização. A luta pela tradição convém com estupro de estruturas já corrompidas, proposto pelo músico em seu texto.

O ano de 2003 assinalou o absurdo deste começo de século não restando nada a não ser uma atração niilista e fracasso.

Imprensa Cantada inicia-se com “Dona Divergência” a voz do músico ecoando a guerra contra o sofrimento, destruição do fel. “Companheiro Bush”, disponibilizada no sítio oficial do músico em versão demo, reaparece numa atmosfera alegre para “suavizar” as contradições convenientes do governo Bush: “Se você já sabe quem vendeu aquela bomba pra o Iraque / desembuche / eu desconfio que foi o Bush”.

“Requerimento à Censura” tem texto na forma de requerimento que solicita ao diretor do departamento de censura censurar de algumas letras. “Desenrock-se” já havia sido disponibilizada para download na página da editora Trama em 2000. A versão aparece no álbum sem nenhum retoque. “Interlagos F1” é uma “ode” à velocidade.

Em “Urgente Pela Paz” o músico algutina o adjetivo urgente com o advérbio já criando o neologismo “urjá” para intensificar a necessidade de paz, o que une este texto à já citada “Dona Divergência”.

“São São Paulo/Asa Branca” une o primeiro grande sucesso de Tom Zé com o clássico de Luiz Gonzaga.

O disco ainda inclui a versão para "Você é o Mel (You’re the Top)" versão de Augusto de Campos para You’re the top, de Cole Porter.

Panfletário, enigmático, experimental, gênio e estranho no ninho da Tropicália são atributos facilmente atribuídos a Tom Zé. Nesta crítica preferirei chamá-lo de artista. Artista inquieto e criativo que confirma pela milionésima vez sua irrefutável qualidade.