Cat Power – You Are Free
Matador, 2003
Ela sempre volta. Demora dois, três anos, mas sempre traz boas novas (ou velhas, para garantir) em canções melodiosas e angustiadas que ferem por tanta beleza. Mas este não é um simples retorno se considerarmos que ela não lança material inédito desde 1998. Respirou um pouco, com fôlego recuperado, surpreendeu lançando o tristíssimo
The Covers Record (2000) em que recriava (sem heresias) canções de boa cepa (“Satisfaction” dos Stones, “I Found a Reason” dos Velvets e “Red Apples” dos Smog).
You Are Free, seu sexto álbum, tem produção esmerada, participação de Eddie Vedder e merece ser antes ouvido em todas as suas particularidades (não as enumerarei).
O piano que abre o álbum faz cama para que os versos “Last time I saw you / you were on stage / Your hair was wild, your eyes were red/ And you were in a rage” de “I Don’t Blame You” cite a
fúria Kurt Cobain e a escolha de seu destino. Em “Baby Doll” Chan indaga: “Baby like like like is all you see / don’t you want to be free? / Baby red red red fire is what you breath / don’t you want to be clean?”.
Cat Power
É até possível teorizar sobre o conceito de liberdade presente nas faixas do álbum: você é livre para decidir seu caminho, não há sofrimento que não seja merecido e a culpa só deve ser extirpada pela própria consciência. Não sei se é existencialista ou mais um estudo “casual” sobre nossas fragilidades.
You Are Free não é o melhor disco de Chan Marshall, mas certamente um dos pontos altos de sua carreira. Situa-se entre a rebeldia de
What Would Community Think (1996) e o lirismo onipresente do belíssimo
Moon Pix (1998).