segunda-feira, março 29, 2004

American Music Club

Podem dizer o que quiser. Apesar de adorar os Pixies, o retorno que eu mais comemorei foi o dos American Music Club, uma banda digna até o limite máximo da expressão.

quarta-feira, março 17, 2004

Às vezes ouço música...
(Fevereiro/Março de 2004)






1. Sun Kil Moon – Ghosts of the Great Highway (2003, Jetset)


Sun Kil Moon é a nova banda de Mark Kozelek e Anthony Koutsos (Red House Painters). Mas o adjetivo novo não se aplica a atmosfera do álbum. Sente-se ainda aquele frescor das guitarras dos dois últimos álbuns dos Painters (Songs For a Blue Guitar e Old Ramon), talvez o grande trunfo e razão deste disco. A formação do grupo inclui Tim Mooney (American Music Club). Kozelek nunca entrou na corrida para gravar o disco do ano, não projetou sua banda para a próxima revolução musical e nunca procurou confundir seus fãs com o ecletismo exacerbado destes tempos, e vale muito a pena conhecer sua obra completa, caso contrário perde-se a oportunidade de ouvir versos tão simples e bonitos como os de “Glen Tipton”:

“I put my feet up on the coffee table / I stay up late watching cable /I like old movies with Clarke Gable /Just like my dad does /Just like my dad did when he was home /Staying up late, staying up alone / Just like my dad did when he was thinking /Oh, how fast the years fly”





2. Stereolab – Margerine Eclipse (Elektra, 2004)


A despeito das evolução gradativa que vem ocorrendo a música dos Stereolab, irei direto ao ponto: O Stereolab retrocedeu. Em Margerine Eclipse temos a banda de Mars Audiac Quintet. Tentei muito não cair na tentação fácil de iniciar uma resenha a comparar este álbum com algum outro da discografia do grupo. Mas explico, para alguns artistas o fato de buscar soluções já experimentadas é uma forma de resolver uma estagnação criativa em que os resultados, geralmente, são decepcionantes. Mas, felizmente, este não será o caso do grupo. A evolução que eu mencionei nunca foi tão radical, apesar dos últimos álbuns serem menos pop (a coroação fica com Cobra and Phases Group... de 99), os Stereolab sempre se mantiveram numa unidade sonora impressionante, em discos que são, na verdade, variações mínimas da proposta musical do grupo.

Outro possível motivo para Margerine Eclipse possuir direção mais tradicional do grupo, foi o desejo de recomeçar. Pouco depois de um ano do acidente que vitimou a guitarrista e vocalista Mary Hansen, o grupo inaugurou um novo estúdio, o Instant Zero e lançou o EP Instant 0 in The Universe, e teve que recomeçar quase do zero. E ao ter que escolher entre os venais três primeiros discos, optou pela sonoridade circa 94/96 de álbuns como Mars Audiac Quintet e Emperor Tomato Ketchup, tudo isso somado a evolução técnica dos integrantes. Destaques: “Need to be”, “Vonal Declosion”, “...sudden stars” e “Margerine Rock”.





3. João Gilberto – Amoroso (Warner, 1977)


Foda-se quem não gosta do João Gilberto. Hoje é muito comum falar mal dele, dizer que está mais chato e gagá do que nunca etc. É cool não gostar dele. Mas quem se importa. Todo a polêmica se encerra quando se ouve qualquer álbum dele. Por ora, indico Amoroso que junto com João Gilberto (aquele que tem É Preciso Perdoar), são os que tenho escutado freqüentemente. Amoroso foi gravado para a Warner americana com o João acompanhado por arranjador e músicos americanos. Nenhuma heresia, já que o disco é mais jazzístico do que a bossa nova pretende.





4. Mojave 3 – Out of Tune (4AD, 1998)


Out of Tune representa a definitiva ruptura de Rachel Goswell e Neil Halstead com a música de sua ex-banda, o Slowdive. Segundo disco de uma discografia ainda pequena, Out of Tune é um disco iluminado, daqueles que te colocam um baita sorriso no rosto e uma vontade imensa de abraçar a namorada ou até de dirigir ao fim da tarde. “Who do You Love”, “Some Kinda Angel” e “Caught Beneath Your Heel” já são suficientes para justificar a aquisição do disco. Mas existem outras boas razões. Há quem prefira o também belo Excuses For Travellers, mas Out of Tune vem antes e emociona mais.





5. Grant-Lee Phillips – Virginia Creeper (2004, Zoe Records)


Depois da bem sucedida experiência eletrônica de Mobilize (2001), Grant Lee Phillips retorna ao seu sítio habitual, o das canções simples e totalmente acústicas. Phillips ainda possui a mais bela voz do pop atual e compõe com a mesma qualidade dos tempos do Grant Lee Buffalo. Dos temas que compõem Virginia Creeper, são memoráveis “Mona Lisa”, a homenagem a Jane Fonda, “Calamity Jane”, “Lily A Passion” e “Susanna Little”.

terça-feira, março 16, 2004







Tom Zé - Imprensa Cantada 2003
2003, Trama




Tom Zé permace criativo. Seu mais recente álbum, intitulado Imprensa Cantada 2003 é mais do que um mosaico de notícias que povoaram noticiários e os articulistas da imprensa escrita do ano passado. O álbum é um apanhado sincrônico e ao mesmo tempo anacrônico dos conflitos que perturbam nossas cabeças por estes três últimos anos, depois do lançamento de Jogos de Armar em 2000.

Os textos ultrapassam uma pretensa objetividade textual para tecer um cruel/irônico libelo contra o imperialismo americano e a dominação do mau gosto proposta pela globalização. A luta pela tradição convém com estupro de estruturas já corrompidas, proposto pelo músico em seu texto.

O ano de 2003 assinalou o absurdo deste começo de século não restando nada a não ser uma atração niilista e fracasso.

Imprensa Cantada inicia-se com “Dona Divergência” a voz do músico ecoando a guerra contra o sofrimento, destruição do fel. “Companheiro Bush”, disponibilizada no sítio oficial do músico em versão demo, reaparece numa atmosfera alegre para “suavizar” as contradições convenientes do governo Bush: “Se você já sabe quem vendeu aquela bomba pra o Iraque / desembuche / eu desconfio que foi o Bush”.

“Requerimento à Censura” tem texto na forma de requerimento que solicita ao diretor do departamento de censura censurar de algumas letras. “Desenrock-se” já havia sido disponibilizada para download na página da editora Trama em 2000. A versão aparece no álbum sem nenhum retoque. “Interlagos F1” é uma “ode” à velocidade.

Em “Urgente Pela Paz” o músico algutina o adjetivo urgente com o advérbio já criando o neologismo “urjá” para intensificar a necessidade de paz, o que une este texto à já citada “Dona Divergência”.

“São São Paulo/Asa Branca” une o primeiro grande sucesso de Tom Zé com o clássico de Luiz Gonzaga.

O disco ainda inclui a versão para "Você é o Mel (You’re the Top)" versão de Augusto de Campos para You’re the top, de Cole Porter.

Panfletário, enigmático, experimental, gênio e estranho no ninho da Tropicália são atributos facilmente atribuídos a Tom Zé. Nesta crítica preferirei chamá-lo de artista. Artista inquieto e criativo que confirma pela milionésima vez sua irrefutável qualidade.