segunda-feira, junho 30, 2003




25 anos sem Jacques Brel


Jacques Brel (1929-1978), cantor, compositor, ator e diretor de cinema, foi uma das personalidades mais marcantes do mundo artístico europeu neste século. Suas músicas atravessaram o tempo e as fronteiras, sendo traduzidas e executadas no mundo todo até os dias de hoje. A universalidade de sua obra fez com que ele fosse um dos poucos artistas em língua francesa a ser famoso também nos Estados Unidos (onde foi tema um musical de grande sucesso, "Jacques Brel is alive and well and living in Paris", e de um filme com o mesmo nome, além de diversas homenagens em disco). Sua obra foi traduzida para o holandês, alemão, espanhol, russo e diversos outros idiomas, sendo interpretada em toda a Europa.

Brel foi um marco fundamental na música francesa, juntamente com seus contemporâneos Georges Brassens, Léo Ferré, Guy Béart, Edith Piaf e Yves Montand. Original, inconformado, revolucionário, ele marcou profundamente toda uma geração na França.

Suas músicas romperam dois estereótipos antigos: em primeiro lugar, o de que a canção poética é sutil demais para chegar ao grande público. Em letras de um lirismo e elaboração extraordinários, Jacques Brel colocou melodias envolventes, explosivas, contagiantes, que arrebatam o ouvinte na primeira audição. Em segundo lugar, ele destruiu o conceito do cantor "parado", apenas com sua voz e seu violão, bastante comum em sua época. No palco, Jacques Brel é um "ator musical", que vive cada música com uma força impressionante. Cada interpretação é uma pequena "peça de teatro", onde ele representa os personagens de suas letras com a intensidade exata, na medida certa, sem exageros. Dessa forma, Brel consegue conciliar o que parecia contraditório na época: a qualidade de suas músicas e a sofisticação da interpretação no palco. Nas décadas de 60 e 70, época da popularização da televisão, ele parece incorporar intuitivamente a sua linguagem, atingindo um público cada vez maior sem abrir mão da qualidade.

Além de seu talento sem igual, o segredo de Jacques Brel era o seu inabalável profissionalismo: ensaiava à exaustão todas as músicas, todas as representações, todos os momentos de seus shows. Dizia que o talento era só a "vontade" de fazer alguma coisa, e não a habilidade em si. Dessa forma, afirmava que só com trabalho incansável é que poderíamos alcançar nossos objetivos.

Depois de quinze anos e mais de vinte milhões de discos vendidos, Brel decidiu abandonar a carreira de cantor, afirmando que era tempo de enfrentar novos desafios. É possível que a música tivesse se tornado uma rotina, o que era para ele insuportável. Perfeccionista, e com uma necessidade crônica de enfrentar desafios, se lançou na carreira de ator por alguns anos, com sucesso, e chegou a dirigir dois filmes. Decepcionado com a recepção da crítica para seus filmes, e já cansado do mundo do show-business europeu, cada vez mais dominado exclusivamente pela lógica do mercado, decide mudar radicalmente sua vida. Em meados da década de 70, Jacques Brel compra um barco e se aventura numa volta ao mundo solitária, apenas acompanhado pela sua namorada. No final da viagem, aportou na Polinésia e decidiu não mais voltar para a Europa. Se instalou numa casa simples, nas ilhas Marquesas, próximo de onde viveu o também genial Paul Gauguin.

Nunca mais voltaria a morar na Europa. Voltou apenas uma vez em 1977, para gravar seu último disco, de estrondoso sucesso. Nessa época ele já sofria com os sintomas de um câncer no pulmão, que tratava há alguns meses, mas que jamais conseguiria curar.

Em 1978, o mundo recebeu inconsolável a notícia da morte de Jacques Brel, aos 49 anos. Seu amigo Georges Brassens, nesse dia, disse que "Jacques Brel não está morto. Para revivê-lo, basta que escutemos seus discos".



por Paulo Blikstein

terça-feira, junho 10, 2003






Neutral Milk Hotel,
In the Aeroplane over the Sea


Coisa que eu não entendo:

Por que elogiam tanto o álbum "In the Aeroplane Over the Sea" do Neutral Milk Hotel? Não passa de um disco chato, bem redundante e com um vocalista de voz extremamente enjoada.

Na verdade eu entendo o porquê: realmente eu sou um sujeito estúpido, insensível, que ainda (mesmo depois de duzentas audições) não percebeu a poética incessante desse "nicho aberto" pelo NMH, o da música extremamente sensível e profunda, preocupada com enigmas existênciais nas reais qualidades de um álbum que é "bom" e que não acho graça nenhuma.




Até que enfim, o JC descobriu que somos ruins demais!

sábado, junho 07, 2003

Music Non Stop



Discos que combateram o silêncio do meu quarto na última semana:





Brute – Nine High a Pallet
Velocette, 1995


O Brute é uma banda que une Vic Chesnutt aos Widespread Panic, na criação de um álbum mais do que satisfatório. Não difere muito dos outros álbuns de Chesnutt tendo o som aproximado ao Is The Actor Happy, lançado no mesmo ano. “Westport Ferry”, “Blight”, “Good Morning Mr. Hard-on”, “Bastards in Bubbles” conquistam o ouvinte já na primeira audição. Indispensável como qualquer álbum de Vic.




Galaxie 500 – Today
Ryko, 1996



Dean Wareham liderou uma das melhores bandas dos últimos 15 anos e nem se deu conta disso quando por desentendimentos com Damon e Naomi, decidiu abandonar os Galaxie 500. O grupo presenteou o mundo com três álbuns impecáveis que valem por toda coleção do Mogwai e Low. Originalmente lançado em 1988, “Today” permanece há 15 anos oblíquo (“Tugboat”), fantasmagórico (“Flowers”), emotivo (“Temperature’s Rising”) e absoluto (“Don’t Let Our Youth Go To Waste”).




Los Hermanos – Ventura
BMG, 2003


Uma banda que merece incondicionalmente todos os elogios que vêm colhendo desde o lançamento do Bloco do Eu Sozinho (2001). Grandes letristas e melodistas, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante agregam as melhores influências artísticas para criar uma música inclassificável e de extremo bom gosto. Adjetivos todos que se aplicam ao terceiro álbum Ventura, um dos discos mais aguardados, e disparado o melhor do ano. O destaque fica para todos os 15 temas que compõe o álbum e a letra de “O velho e o moço”: “Ora, se não sou eu, quem mais vai decidir o que é melhor pra mim? Dispenso a previsão / Se o que sou é também o que / Eu escolhi ser / Aceito a condição”.




American Music Club – Everclear
Alias Records, 1991


Uma obra prima da década passada. Everclear é o mais deslumbrante de todos os álbuns dos AMC, banda que contava com um grande compositor e cantor (Mark Eitzel) acompanhado por músicos extremamente eficientes e afinados com os propósitos estéticos do vocalista. “Rise”, “Ex-Girlfriend”, “Why Won’t You Stay” são três faixas que sintetizam bem as emoções contidas no álbum.





Lee Hazlewood – Cowboy In Sweden,
Smells Like Records, 1973


Gravado no auto-exílio de Hazlewood na Suécia de 1970, Cowboy In Sweden é um álbum mais espiritual e justifica a adoração pela obra do compositor por grupos como Tindersticks e Luna.