MARK EITZEL – CANÇÕES DE CORAGEM E CONFIDÊNCIA
Mark Eitzel
Falo tanto sobre o Mark Eitzel neste blog que me esqueci de resenhar seus álbuns. Então para compensar o atraso, comentarei, em breves linhas, os discos que me escravizaram neste ano, sem contar os maravilhosos álbuns do American Music Club, a ex-banda de Mark.
Songs of Love Live (Demon Records, 1991)
Gravado em 17 de Janeiro de 1991 no Bordeline em Londres, Songs contém versões de clássicos do American Music Club, note-se que Mark ainda integrava o grupo. Bem gravado e com repertório acima da média, o cantor imprime uma paixão maior ao cantar suas canções de amor acompanhado apenas de seu violão. “Firefly” (do terceiro álbum do AMC, California) dá início a sessão terapêutica em forma de apresentação musical:
“C'mon beautiful we'll go sit on the front lawn / we'll watch the fireflies as the sun goes down”. Mesmo na delicada “Chanel nº. 5”, Mark não economiza emoção.
Difícil manter o coração duro em “Blue and Gray Shirt” – canção composta por ocasião da morte da mãe de Eitzel, nada piegas, sutil como um poema:
“I sat up all morning and I waited for you / With my blue and grey shirt on / Yeah I thought that's my lucky one / I'll sit and face the road now / I don't have a heavy load now / I got nothing to keep me hanging around here / From now on / Where's the compassion / To make your tired heart sing / I'm tired of being a spokesman / For every tired thing / There's nothing in the world outside / Just somethings that I see from the side / I'm just a shy boy sitting in a house / When everyone is gone from now on / I sat up all morning and I waited for you / With my blue and grey shirt on / Yeah that's my favorite one / I sat up all morning so why did you call? / 'Cause now I just sing my songs / For people that are gone from now on”.
Não sei se há vídeo dessa apresentação, mas imagino a platéia atônita quando Mark surta na emo “Ouside This Bar”:
“outside this bar there's no one alive / Outside this bar how does anyone survive / Together you and me you know we'll never destroy this world / C'mon baby I wish we could destroy this world / Outside this bar / Together you and me turn this quiet night into silence / Together we'll turn this love into violence".
A voz de Mark é habitualmente grave. Macia nos momentos mais intimistas e violenta quando cospe suas ironias e descontentamentos. Quando ele chega à última música “Nothing Can Bring Me Down”, todos os corações já se denunciaram e muitas lágrimas caíram.
60 Watt Silver Lining (1996, Warner Brothers)
Com o fim do AMC em 1995, Mark continua na Warner e lança seu primeiro álbum de estúdio. 60 Watt Silver Lining é o que podemos, sem prejuízo nenhum pelo clichê, chamá-lo de cool e jazzy, melhor ainda é defini-lo como elegante. Inicia-se com a cover de “No Easy Way Down” de Carole King, imortalizada na voz de Dusty Springfield.
“Cleopatra Jones” lembra bastante as canções do American Music Club a letra fala de uma femme fatale que tem o poder de dominar todos os homens:
“she can kung fu just like Hercules / Cleopatra Jones / leaves evil men on their knees”.
As highlights são “Mission Rock Resort”:
"It's sad when you try and manipulate me / it's sad 'cause I don't love you that way anymore / you're worried if you remembered to use bleach / on a needle / well so what so what / so what so what” e “When My Plane Finally Goes Down”:
“When my plane finally goes down / I hope it falls into the sea / and then the cold and the hard love of the tides / finally make sense to me / And your love is all I'll have to take with me / and your love is all I'll have to take with me”.
West (1997, Warner Brothers)
Segundo álbum gravado em estúdio, West foi composto e produzido por Mark e Peter Buck do R.E.M. e poderia muito bem ser creditado ao American Music Club. É um álbum dinâmico, com baladas legais, arranjos sublimes e o habitual sadcore que imortalizou sua banda. “Helium” é o destaque do disco.
O mais interessante desse álbum é que além de lembrar bastante os discos do AMC, tem a participação de Bruce Kaphan (também ex-American Music Club) no arranjo de “If You Have To Ask”.
Para muitos, West é o melhor disco de Eitzel.
Caught In A Trap and I Can’t Back Out ‘Cause I Love You Too Much, Baby (1998, Matador)
Demitido da Warner e novamente independente, Mark lança seu terceiro disco com o título inspirado no refrão de “Suspicious Minds” , hit de Elvis Presley. Caught In A Trap… não repete as fórmulas do álbum anterior, e em 5 das 11 canções há a participção de uma banda completa, formada por Eitzel, James McNew (Yo La Tengo), Steve Shelley (Sonic Youth) e Kid Congo Powers (ex-Bad Seeds), nas outras 6, temos apenas Mark e seu violão.
Inicia-se com os seguintes versos
“He's always giving you free advice / on ways you can avoid telling him no / the game of survival / some play it far too well / so much hate to make / so much room in hell” e com a pergunta
“Are you the trash /it left behind?”. Bom, neste momento já sabemos que se trata de um álbum triste, amargo e irônico, repleto de canções lentas, melodias belíssimas e letras versando sobre o amor tortuoso, armadilha da qual ninguém deseja escapar. São as chamadas contradições do amor.
O álbum segue literalmente matador com “If I Had a Gun”:
“If I had a gun / I know what I would do / I would seal my fate / seal my fate with you”, e “Queen of no one” :
“All the unhappy drunks with their broken backs / sooner or later they hang up their hats / but his life is like a cut that won't bleed / leaving him high and dry and stupid with need”.
Impossível descrever todas as canções. Ouça e conversamos depois.
The Invisible Man (Matador, 2001)
Melhor álbum solo de Mark Eitzel. Há letras que falam de desesperança, amizades rompidas, violência. Este álbum é tão importante na discografia solo de Eitzel quanto “Everclear” é para o AMC.
Em Invisible Man, o instrumental é totalmente moderno, selando uma nova etapa na carreira de Eitzel ao transitar livremente e com habilidade, os territórios da música eletrônica somados a motivos acústicos.
“The Boy With The Hammer” começa grave, ao som de um piano. Eitzel narra:
“When the boy with the hammer in the bag stands up to cheer/ Then you stand up to cheer”; segue-se “Can You See?”, melodiosa, com clarinetes, trompetes, violão dedilhado e percurssão eletrônica discreta. “To The Sea” é uma homenagem a Jeff Buckley. “Shine” é uma balada deliciosa, sensual sobre desejo: “
I wanna win a costume prize / just so i can look you in the eyes / and you’ll finally see me as really ‘somenone’ / and just another heart / that’s always busy being broken – and I know the only costume prize I’ll win – is if I go as the Invisible Man – You could be a wishpering ghost / that floats like a split milk”.
“Steve I Always Knew” já constava em “Lovers Leap USA” de 1998 (gravação caseira de 500 cópias apenas). Aqui a letra ganha maior dimensão, na voz quase sussurrada de Eitzel. Confessional, fala sobre homossexualismo e reabilitação.
“Seeing Eye Dog” é metáfora, “Proclaim Your Joy” tem a guitarra de Vudi (ex-AMC), a canção mais natural do álbum, o mais próximo das canções do American Music Club que poderemos encontrar no disco. Mark sentencia “é importante por toda a sua vida proclamar sua alegria”.
Certíssimo, Mark.
Music For Courage & Confidence (2002, New West)
Gravado em 1998 e somente lançado em abril deste ano Music For Courage & Confidence é um álbum de regravações. Não é comum como outros álbuns de covers. Aqui Eitzel reelabora todas as canções, seja a desconstruir arranjos seja alterar letras.
Não é homenagem, e sim um disco de intérprete, sem a pretensão de pagar tributo aos artistas originais.
O disco tem atmosfera semelhante a Ivisible Man e não comete nenhum pecado e o mais inusitado é a versão de “Do You Really Want Tho Hurt Me”, hit dos anos 80 com o Culture Club de Boy George.